Escrevendo cartas, produzindo tipos e edificando o todo. A escrita na Companhia de Jesus, entre seus membros: uma escritura que seja edificante1
Resumo
Este trabalho se propõe a examinar a prática de escrita de Pedro Lozano, um jesuíta que também exerceu a função de historiógrafo na Companhia de Jesus, em meados do século XVIII. O exercício foi realizado a partir de uma missiva por ele destinada ao Procurador Geral, Pe. Bruno Morales. Sabe-se que a documentação produzida pelos inacianos possui reconhecido valor histórico e etnográfico sendo, por isso, intensiva e extensivamente explorada pelos acadêmicos, assim como por escritores literários. A análise sobre esse tipo de fonte também permite tomar por objeto a prática de escrita desses indivíduos, sobretudo, a partir da reflexão sobre seu “lugar de produção”, bem como sobre a “operação historiográfica” nela empregada, conforme sugeriu Michel de Certeau. Desse modo, não ignorando a existência de uma individualidade na escrita de Lozano, definiu- -se –para circunscrever o lugar de onde ele escreve, bem como delimitar a atividade escriturária em si– delinear os limites impostos pela Ordem a partir do exame das Reglas de la Compañia de Jesús, das Constituciones e da autobiografia de Santo Inácio de Loyola. Coadjuvantes no relato de acontecimentos reais, e fazendo uso de uma representação cuja constante era a tensão social, organizava-se um discurso desenvolvido a partir de reiteradas orientações. Estas, expressadas nas cartas e supostamente obedecidas, ao tornar-se prática de leitura e de escrita, ao passo que informavam, também conformavam. Edificavam uma imagem institucional, ao mesmo tempo em que se elaboravam a si. O texto contribuía para a instrução, mas também resultava na construção de seu próprio autor. Se os edificavam, também os identificavam, podendo-se conhecer a Ordem pelo indivíduo, e ao mesmo pelas práticas.
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