She-ra, una heroína lesbiana en una serie de animación

  • Silmara Takzaki
Palavras-chave: heroína ; lésbica ; animação ; diversidade ; homossexualidade ; LGBT ; representatividade ; serie ; gênero ; corporalidade

Resumo

Se as heroínas têm seu próprio caminho em sua jornada, um pouco distante da teoria de Campbell, as heroínas lésbicas têm um caminho ainda mais peculiar. Como os diversos feminismos (negro, lésbico, decolonial etc.) que muitas vezes precisam demarcar seu espaço, com suas próprias diretrizes, a heroína que não se enquadra na cis-heteronormatividade também reivindica seu lugar de protagonismo. Em filmes de animação comerciais/ocidentais, personagens lésbicas não são comuns: somente no final dos anos 1990, após a despatologização da homossexualidade pela OMS, a lesbianidade começou a aparecer nos desenhos animados. Mantidas em armários, relegadas a papéis muito discretos ou, pior ainda, sendo motivo de chacota e alívio cômico em vários desenhos, foi apenas nos últimos anos que surgiram alguns personagens importantes, como Garnet (Steven Universo), Jujuba e Marceline (Hora da Aventura), e She-ra (She-ra e as Princesas do Poder), que se tornou a primeira protagonista lésbica heroína em uma série comercial ocidental. Desde a primeira versão de She-ra, encomendada pela Mattel - fabricante de bonecas Barbie (1985-1986) até o remake da Netflix/Dreamworks (2018-2020), a personagem She-ra percorreu um caminho muito interessante. A começar pela mudança no título da série (a anterior chamava-se ‘She-ra: a princesa do poder’; e a nova, intitulada ‘She-ra e as princesas do poder’) que deixa clara a mudança na forma como a narrativa é conduzida, pois se antes estava sozinha, agora estará acompanhada de outras amigas poderosas. Ao longo da narrativa, a tônica é o desenvolvimento da amizade entre os personagens. A nova versão aprofunda as personagens e suas relações (entre amigos, conhecidos, mãe-filha, madrasta, família). A nova série é dirigida ao público infantil e foi feita quase inteiramente com desenhos feitos à mão. Foi dirigida por Noelle Stevenson, uma ilustradora e diretora lésbica, e sua equipe de roteiristas e artistas é composta principalmente por mulheres. Noelle disse em uma entrevista que “todos os personagens da série são LGBT até prova em contrário”. No entanto, as relações afetuosas entre as personagens foram gradualmente introduzidas durante a série. Por meio de uma etnografia na tela (Rial, 2014), analiso as mudanças entre a versão anterior e a mais recente, a partir de uma perspectiva feminista e de gênero, bem como o desenvolvimento dos afetos lésbicos dentro da narrativa nas cinco temporadas desta versão. O objetivo foi perceber as subjetividades na construção das identidades, as sexualidades e as escolhas dos rumos do desenho no que diz respeito às emoções representadas. No universo de fantasia dos desenhos animados, personagens não-humanos também podem ser lidos de forma reconhecível em termos de atitudes, amores, escolhas. As discussões centraram-se em estereótipos, representatividade, formas corporais (diversidade de corpos e etnias, mudanças de figurino, maquiagem), heteronormatividade e hipersexualização de personagens femininas. Os resultados foram interpretações possíveis sobre a relação entre o momento histórico de exibição do filme e as escolhas narrativas; as ligações espaço-temporais entre movimentos feministas/LGBT+ e a representatividade encontrada nas protagonistas e, principalmente, o lugar do discurso das diretoras/artistas em relação direta com a imagem positiva da personagem na história. Enfim, percebe-se como uma heroína tem sua própria construção e precisa ter algumas formas de redenção que não se sobreponham a um herói masculino: ou hipersexualização (Bernárdez-Rodal, 2018), ou maternidade, amor romântico, família - pois desta forma se aproxima dos papéis esperados para uma feminilidade aceitável. A heroína lésbica, afastando-se do amor romântico heterossexual, precisa encontrar outras maneiras de ser bem-vinda ou buscar estratégias para obter algum reconhecimento. Considerando que em 2021 ainda existem 69 países onde a homossexualidade é considerada crime, a presença de protagonistas e lésbicas fortes em filmes de animação é, por si só, um ato heróico.

Referências

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Publicado
2021-09-06
Como Citar
Takzaki, S. (2021). She-ra, una heroína lesbiana en una serie de animación. Cuadernos Del Centro De Estudios De Diseño Y Comunicación, (142). https://doi.org/10.18682/cdc.vi142.5123